

EXPOSIÇÃO 4 de maio no MATILHA CULTURAL
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Jamelo, o artista-pintor que ora ocupa o espaço expositivo principal da Matilha Cultural me convida a falar sobre o seu trabalho. Propõe que eu me incumba da curadoria. Mas ele me chega com tudo pronto: os trabalhos a serem expostos já escolhidos, uma planta do local expositivo com a indicação exata para cada pintura, as legendas, a planta da sala, o guia o a ser impresso e, ainda, com o título da exposição – Fresta – dito prontamente e sem titubear. E eu logo entendo que ele perfaz, dessa forma, também o papel de auto curador, no sentido do cuidado com que é capaz de falar sobre sua própria produção artística e do modo mais adequado para ex-por (pôr para fora) cada pintura. E não lhe falta um forte posicionamento acerca dos rumos a seguir, o que me surpreende.
Em sua casa-atelier, no distante bairro Carrão da Zona Leste, Jamelo vive na periferia e trabalha entre paredes repletas de seus trabalhos, varais com pinturas a secar, gravuras que coleciona de longa data e uma preciosa tela do Jamaica (Rogério Tadeu Roque) – artista fauve que “descobrimos” pelas ruas do centro, de quem guardo três outros trabalhos em minha coleção particular. Sua produção é intensa e nos envolve pelas cores e pelas tintas quase sempre secas, rugosas, ou distante das aguadas que até mesmo o óleo pode oferecer. O figurativismo dominante parece desdenhar a verossimilhança e resulta quase sempre em cenas alegres, porém, em alguns casos nos atormenta pelos títulos, como é o caso da série que acompanha a tela intitulada 8 de janeiro. Interiores escuros e cartas de Tarot perfazem uma série de forte aproximação com a gravura, porém, neste caso, trata-se de uma sequência de belos desenhos feitos com o cabo de um pincel sobre telas carregadas de tinta fresca. Noutra série vemos os símbolos e arquétipos, uma sequência de pinturas em preto sobre telas brancas de tamanho menor, desprovidas de chassis.
As cenas urbanas - no mais das vezes tão atrapalhadas porque fruto de uma intenção de retratar o caos da megacidade - mostram ícones arquitetônicos como o Copan de Niemeyer, o Minhocão, uma esquina qualquer onde se vende Kebap (aqui conhecido como churrasco grego), a fachada de uma igreja ou mesmo um pequeno play ground onde se vê alguns pequenos a se divertirem. Nos mais das vezes, essas cenas não dispensam um agrupamento de gente que se confunde com planos e perspectivas às avessas – uma delícia para arquitetos!
Uma série abstrata e monocromática pode nos surpreender em meio ao repertório figurativo: São paisagens interiores provindas do inconsciente (sonhos, como afirmam os títulos)? São experiências mais recentes de Jamelo para se aproximar do expressionismo abstrato? Ou fazem menção à cena final do Zabriskie Point? Aposto em todas!
Habituado às ações reivindicatórias em prol do Direito à Cidade (como o conheci à altura da ocupação no Parque Augusta, em janeiro e fevereiro de 2015), Jamelo nasce artista-ativista, e passa a pintar tudo o que vê e apreende nas entranhas da megacidade onde vive. Me surpreendo com a cor em seus trabalhos, o que me remete diretamente aos expressionistas alemães que pude ver e rever nas consecutivas visitas ao Brücke-Museum, em Berlin-Dahlem, pois me parece correto associar, também, o que Jamelo vê e pinta em nossos dias ao horror sofrido pelos expressionistas um século atrás. Contudo, como em Rottluff, Heckel, Nolde, com Jamelo é justamente a paleta de cores, e não a linha, que nos conforta e nos faz resistir. Até mesmo o tamanho reduzido da maioria das telas utilizadas por Jamelo me leva de volta ao acervo mantido em Dahlem, donde sempre retornava para casa a pensar como era possível tamanha força explosiva se comportar em modestas molduras!
Através do uso intenso das cores, no mais das vezes aplicadas sobre as telas para definir num só golpe o desenho, a cena ou a composição – convencionalmente admitidos como recursos que precedem a pintura propriamente dita – Jamelo nos remete também a Matisse, que defendia o preto como cor e não como ausência de luz, a caminho de superar o conflito entre cor e desenho. E tal recurso, através do qual se soma o ideal dos expressionistas já citados, parece aqui sugerir um poder sobressalente, qual seja, o de superar os conflitos externos e internos, o dentro-fora, o interior- exterior, o absurdo coletivo e o bem-viver para, de pronto, nos sinalizar uma forma genuína de conforto existencial e, quem sabe, de alguma alegria.
Prometi um texto curto, sabendo de antemão ser justo citar em particular os artistas de Dahlem, pois em poucas linhas não caberia sequer roçar também o “pessoal” que costumava encontrar no Lenbachhaus, em Munique, ante a maior coleção dos expressionistas que formaram o grupo Der Blaue Reiter. Tampouco caberia aqui chegar aos fauves franceses, os “selvagens” contemporâneos a Matisse. Seguiria então direto para Jean Dubuffet e sua Art Brut, que bem antes de Beuys já incendiava as porteiras das academias afirmando o sentido mais ampliado para o entendimento da arte como um fazer concernente a todos, ou como uma “escultura social” (Beuys). Pois creio ser importante dizer o quanto me conforta apresentar o Jamelo não somente como um pintor de nossos dias, mas também como um artista que não se satisfaz com “o som ao redor” e que não descansa enquanto há luta.
Arnaldo de Melo
São Paulo, abril 2023

PINTURA
Movimento extracionista e poesiakt0 ocupam a SP_ARTE 2021
A quantas anda o mercado de arte? Para responder essa pergunta, é preciso pensar, no mínimo, em três dimensões: quem faz arte, o que é feito e quem consome a arte que é realizada. As múltiplas feiras de arte que ocorrem pelo mundo e pelo Brasil buscam, cada uma à sua maneira, trabalhar essas dimensões. Faltam, porém, vozes dissonantes. Celso Jamelo (@jamelo.oficial) realizou, em outubro de 2021, na SP-Arte, uma intervenção que apontou nessa direção. Colocou, sem autorização, em uma parede, uma obra de sua autoria com uma etiqueta convidando as pessoas a realizarem um pix em seu nome, podendo ou não levar a sua criação visual. Logo foi “convidado” a retirar a sua criação, mas o registro da intervenção ficará para sempre, mostrando que o sistema de arte ainda tem ações criativas e polêmicas. Basta saber encontrá-las e divulgá-las.
Oscar D'Ambrosio
Exposição Entre Elos no Atelier Colibri SP, Galeria Metrópole, São Paulo @ateliercolibrisp
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SOBRE
Celso Jamelo é um artista no sentido pleno da palavra. O que isso significa? Em primeiro lugar, um comprometimento visceral com a sua criação, entendida como um projeto de vida.
As suas pinturas apresentam diversidade na temática, mas uma uniformidade de gesto. Existe um tom visceral, Cada uma traz uma declaração do que significa estar no mundo. É fruto de um processo que envolve leituras, músicas e uma jornada vivencial caracterizada por constantes recomeços.
Seja uma paisagem ou uma figura relacionada ao tarô, o conjunto traz uma mensagem profética no sentido de indicar que, perante um mundo cada vez mais previsível, há respiros de liberdade. Ao contemplar as suas obras, vemos paisagens da alma, elos com o mundo que são ofertados em um ato de amor ao próximo.
As imagens de Celso Jamelo, assim como suas atitudes, são representações visuais e performáticas de um pensar o mundo conectado ao sentir. Perante esse cenário, noções convencionais de certo/errado ou bom/ruim desaparecem. Surge um trabalho potente e expressivo e acolhedor em seu carinho pela humanidade.
Oscar D’Ambrosio
